terça-feira, 7 de julho de 2009

Crítica sobre o filme - Queime depois de ler

Queime depois ler (Burn After Reading, 2008) é mais uma tentativa de emplacar um tragicômico, gênero delicado, de difícil execução no cinema. Isso porque implica em algo mais do que efeitos especiais. É necessário ao roteirista uma sensibilidade aguçada, para não errar a dose do toque engraçado na desgraça e cair no mau gosto ou no ridículo. Além disso, filmes desse tipo quase sempre dividem a opinião da crítica internacional.

Para tentar mexer na receita e criar algo diferenciado, os irmãos e diretores e roteiristas Joel e Ethan Coen, já com a experiência no gênero com o filme “Matadores de Velhinhas” (The Ladykillers, 2004), convocaram um elenco de peso: George Clooney, Frances McDormand, John Malkovich, Tilda Swinton e Brad Pitt. Os atores cumpriram sua parte, sem grandes atuações, mas com performances bastante razoáveis, especialmente Brad Pitt.

Os irmãos Coen, que dirigiram o premiadíssimo “Onde os fracos não tem vez” (No Country for Old Men, 2007), foram capazes de escalar George Clooney e Brad Pitt para papéis ousados, com personagens que beiram o ridículo, na contramão das atuações que esses atores desenvolveram na maior parte de suas carreiras. Para tornar ainda mais original, a edição privilegia a sátira dos filmes de espionagem, utilizando elementos comuns do gênero.

Mais do que isso, o filme, sutilmente, incorpora o espírito filosófico da comédia, buscando o riso do inusitado do trágico. Rimos pelo alívio e vergonha alheia. Claro que não se trata de uma comédia no nível do teatro grego – longe disso, mas a idéia é bem executada, com apelo que vislumbra o estranhamento pelo grotesco.

Ao contrário de “Matadores de Velhinha”, sem nenhuma premiação expressiva, “Queime depois de ler” recebeu duas indicações ao Globo de Ouro, nas categorias de Melhor Filme e Melhor Atriz (Frances McDormand). O filme apresenta um enredo inusitado, que tenta ficar engraçado aos poucos, sem exageros para evitar ser forçado – ponto positivo. Às vezes, porém, as situações ficam irreais, beirando o absurdo, o que dificulta aceitar a proposta dos irmãos Coen. Mesmo para esse tipo, é preciso uma certa coerência.

O maior mérito desse filme é emplacar a comédia na lista de indicações, algo difícil no cenário mundial. Ainda assim, “Queime depois de ler” oferece boas cenas engraçadas. Brad Pitt mostrou que se adapta bem em qualquer papéis, ao fazer o jovem Chad Feldheimer, que trabalha em uma academia.

George Clooney também aparece com destaque. Diferentemente dos papéis de galã, ou de “mocinho”, como em “O Pacificador” (The Peacemaker, 1997). Ele aparece num papel de uma pessoa medrosa, que age por instinto e tem enorme dificuldade em enfrentar problemas emocionais – quase um “bebê chorão”, dependente emocionalmente da mulher, escondido atrás do jeito “machão”.

Na história Chad Feldheimer e Linda Litzke, funcionários de uma academia de ginástica, encontram um CD com dados pertencentes ao agente da CIA Osbourne Cox, recentemente demitido de suas funções. Linda é obcecada por plásticas e tratamentos de beleza e resolve, com a ajuda de Chad, extorquir Cox para conseguir dinheiro para suas plásticas. O caso se arrasta até a embaixada russa, causando uma confusão enorme.

Paralelamente, a esposa de Cox, Tilda Swinton, sustenta um romance com Harry Pfarrer (George Clooney), também casado. Essa é a relação que apresentará o lado pastelão sentimental do personagem de Clooney.

As coincidências na trama sobram um pouco, mas não chegam a derrubar o filme. Diferentemente de em “Matadores de Velhinha”, em “Queime depois de ler” os irmãos Coen produziram um filme menos cansativo e mais plausível. A proposta do filme é bem desenvolvida, cumprindo o seu objetivo principal: mostrar como somos somos ridículos.

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